Abri a janela...
O negro da noite chamou-me. Todos os dias ouço a sua voz a convidar-me para olhar o céu, para ouvir a sua música, para sentir o seu cheiro. Estou à janela e sinto ainda um frio na cara típico de uma tímida primavera que há pouco começou.
Inspiro. Inspiro daquela maneira especial que faço todas as noites. Inspiro tentando encontrar, no agradável e inconfundível odor que entra em mim, a lembrança de outras vezes em que também inspirei à janela desta mesma forma, com esta mesma intensidade.
Inspiro e revejo "aquele ano" tão querido, mas infelizmente já ido. Inspiro e sinto as lágrimas, por momentos, a invadir os meus olhos. "Aquele ano" faz-me ficar assim. Mas já terminou. Já o vivi. NÃO QUERO pensar mais nele. NÃO POSSO pensar mais nele. Mas aquele inspirar fê-lo voltar ao meu pensamento.
Já não vejo o céu, nem sinto a brisa fria no rosto, nem tão pouco ouço o cantar da escuridão ou sinto o seu cheiro.
Fechei a janela.
Liliana Matos
3 comentários:
A noite e o seu silêncio mudo são propícios a nostalgias e enigmas ;)
gostei do texto..
tens é de escrever coisas lindas destas mais vezes :)
Aqui, quando o negro me vem cahmar, eu costumo-lhe dizer para vir mais cedo no dia a seguir, que aquilo já não são horas para ir beber uns copos!
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